Esta é uma história totalmente verídica e nada inventada. O relato a seguir trata de um assunto possivelmente aflitivo ou incômodo para algumas pessoas. Se você se impressiona com facilidade, sofre de problemas cardíacos ou só é fresco mesmo, é recomendado que você vá em frente, entre numa boa. Porque a vida é uma festa. Não controle, não domine, não modere. Deixe que a mente se relaxe, faça o que mandar o coração.
20 de agosto de 2019
O céu estava nublado.
Fui acordado à 7 horas da manhã pela minha mãe.
– Filho, vamo acordar? Tá na hora de ir pra escola.
Havia ido dormir muito tarde na noite anterior por conta de trabalhos procrastinados até o último minuto.
Fitei o teto, branco, e me levantei.
Fui para a cozinha. Tomei uma xícara de café com leite com cinco colheres de açúcar e comi um pão com margarina.
Fui para o banheiro. Urinei, lavei as mãos e escovei os dentes.
Peguei minha mochila e fui para a garagem.
Entrei no carro junto de minha mãe, que deu a partida e seguiu em direção a parada de ônibus.
Subi no ônibus. Sentei na janela.
Três esquinas depois, olho para o horizonte e digo para mim mesmo: não! Não como quem, em meio à sua petulância mundana de se achar algo além de um bit neste vasto e misterioso universo, exige. Não como quem manda na divindade suprema, na força que rege o espaço e o tempo. Não. Disse como quem suplica aos deuses. Se joga aos pés de seu mestre celestial e assume todos os seus erros, pede perdão, chora e esperneia.
Me senti pequeno. Teria a vida perdido o sentido? Teria a vida, algum dia, tido sentido? Foi neste momento, em meio ao existencialismo e gotas de suor que escorriam por minha testa em uma manhã de 6°C, que tudo parou. Meu corpo deu marcha à ré. O tempo começou a retroceder e senti que, em algum lugar do mundo, o Halls preto passava a ser, de fato, preto; um carioca e um paulista entravam em acordo quanto a terminologia de bolacha e biscoito; palmeirenses e corintianos faziam as pazes e se amavam.
Meu corpo entrou em sintonia com a natureza e foi nesse momento que, em meio ao meu ateísmo, soube que Deus olhava por mim e impediu que uma desgraça acontecesse. Seguiu-se a viagem; e minha cueca, branca. Tudo estava em seu devido lugar.